Capítulo 5



TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao


Interpretação de Janine Milward



Capítulo 5

O céu e a terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha
O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha

O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação
O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento
E não é melhor do que manter-se no centro


Interpretação
Janine Milward


O céu e a terra não são bondosos
Por várias vezes ao longo do Tao Te Ching, Lao Tse nos fala que o céu e a terra fazem nascer e criam seus filhos mas não os querem para si... No Capítulo 5, o mestre vai ainda além, nos afirmando que céu e terra não são bondosos, ou seja, são absolutamente impessoais. O Tao é impessoal; diferente da idéia do Criador ou de Deus como mente suprema alcançada por algum super-homem que traz sua criação embalada em seu colo e é visto como grande pai todo poderoso. O Tao é impessoal e não pessoal em sua forma mais absoluta de ser.

Tratam os dez mil seres como cães de palha
Na antigüidade, era muito comum se honrarem sacrifícios aos céus matando um animal. Mais tarde, houve a compreensão de que os animais não estavam na natureza para serem servidos em sacrifício de qualquer espécie e a partir dessa ampliação de consciência, o homem passou a confeccionar cães de palha, bonecos representando o motivo da natureza a ser oferecido como sacrifício. Após a cerimônia e o ritual de oferenda, o objeto de palha era jogado no lixo, sem qualquer outra serventia....

Quando Lao Tse nos diz que céu e terra tratam os homens e toda a natureza como "cães de palha", ele quer fazer significar a plena, total e absoluta impessoalidade do Tao, do céu e da terra.

No Capítulo 25, Lao Tse nos diz com mestria:

O homem se orienta pela terra,
a terra se orienta pelo céu,
o céu se orienta pelo Tao
e o Tao se orienta por sua própria natureza.
Também os "cães de palha" vão significar o desapego. Em vários outros Capítulos, Lao Tse nos diz que Céu e Terra apenas geram e criam mas nada querem para si. O Homem Sagrado exerce a Virtude do desapego ao seu corpo físico transmutando-o em Corpo de Luz e por isso torna-se o modelo de Virtude para todos os outros seres.

O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha

O Homem Sagrado é aquele que se fusionou integralmente ao Tao, assemelhando-se em tudo ao Tao, inclusive ao fato de se tornar impessoal. No caso do Homem Sagrado, sua impessoalidade não significa indiferença ou ausência de compaixão. Não, pelo contrário. O único possível desejo restante no Homem Sagrado, além de sua Imortalidade (pois sua Iluminação já está garantida) é ajudar na salvação de todos os outros homens ou dez mil seres que já estejam ou não no Caminho da Bem-Aventurança. E é exatamente por isso que ele, o Homem Sagrado, torna-se tão impessoal quanto o Tao, ou seja, ajudando sim, no entanto, não servindo de muleta para o Caminhante Caminhar seu Caminho e sim, apontando o Caminho que ele, o Homem Sagrado já trilhou e dessa forma, mostrando que todos os seres podem fazer o mesmo, orientando-se pela terra, que se orienta pelo céu, que se orienta pelo Tao que se orienta por sua própria natureza....

O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um fole
Sendo o Homem Sagrado o próprio símbolo da terra, do céu e do Tao, sua orientação é sempre relacionada à meditação. É através da meditação que a plena fusão entre o ser e o Tao pode acontecer. A meditação é fundamentalmente estruturada no homem e sua respiração, ou seja, a entrada e saída do Ch'i, do Pranah, da respiração da totalidade da criação, do universo, da Suprema Consciência, do Absoluto. É nesse espaço entre a inspiração e a expiração que a Criação vive e morre e se transmuta todo o tempo. Dessa maneira, Lao Tse nos diz que esse movimento dentro da Criação assemelha-se a um fole.

É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação

O fole da respiração da Criação, o espaço entre o céu e a terra é o vazio onde se insere o Caminhante em sua meditação fusionada ao Tao. O processo da meditação traz em si mesmo várias etapas e cada uma dessas etapas vai transformando o Caminhante em seu Caminho no sentido de aproximá-lo mais e mais de sua Iluminação e posteriormente de sua Imortalidade, quando existe a alquimia do Caldeirão, ou seja, quando o corpo físico do homem passa a ser o Corpo de Luz do Homem Sagrado. Por isso, Lao Tse nos diz que esse espaço, esse fole, esse vazio, tudo isso é um movimento que traz a contínua criação.

O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento
E não é melhor do que manter-se no centro

Também em outros capítulos do Tao Te Ching, Lao Tse nos fala sobre o conhecimento e de como em tantas ocasiões este pode mais ser negativo do que positivo no sentido do extremismo do racionalismo ou do intelectualismo, questões que nada contribuem, ou muito pouco contribuem no Caminho da Iluminação e da Imortalidade. O que verdadeiramente traz a fusão com o Tao é a meditação, é o alinhamento da respiração do Caminhante com o fole universal, é a entrada do Caminhante no espaço entre o céu e a terra, ou seja, no vazio. Assim é a completa interiorização que nos leva a Caminhar nosso Caminho.

O Tao é a absoluta interiorização, nada é exterior ao Tao. Tudo é interior ao Tao. E o Tao não possui nem mesmo uma respiração porque se assim fosse, não seria o Tao porque seria presumível então haver a inspiração e a expiração, o que já traria uma exteriorização. Dessa forma, o Tao é o Vazio. E o vazio tem como movimento a contínua criação. A criação, céu e terra, gera e cria mas nada quer para si, por ser impessoal.


Com um abraço estrelado,
Janine Milward
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TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 5
Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching