Capítulo 15






TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 15

Interpretação de Janine Milward


Capítulo 15


Os bons realizadores da antiguidade eram sutis
Maravilhosos, misteriosos e despertados
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E justamente por não poderem ser compreendidos
É preciso esforçar-se para ilustrá-los

Receosos como quem atravessa um rio no inverno
Cautelosos como quem teme seus vizinhos
Reservados como o hóspede
Solúveis como o gelo fundente
Genuínos como a madeira bruta
Vazios como os vales
Entorpecidos como as águas turvas

O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer

E justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar

Interpretação
Janine Milward

Lao Tse, o Mestre do Tao, teria nascido por volta de 700 antes de cristo, ou seja, ainda dentro da Era de Áries, que antecedeu a Era de Peixes. Hoje, eu acredito que estejamos na ante-sala da Era de Aquário. Cada Era possui cerca de dois mil anos. Porém, sendo 12 o número de Eras - em função do movimento realizado pela Terra denominado de Precessão dos Equinócios - e realizando o ciclo completo em cerca de 26 mil anos, cada Era tem seu começo e seu final identificados astronomicamente, naturalmente, e com um pouco mais de dois mil anos....
A Era de Aquário, dentro do ponto de vista astronômico, começa realmente a acontecer por volta do ano 2150. Dessa forma, ainda nos encontramos no final da Era de Peixes....

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Neste Capítulo, Lao Tse nos fala sobre o Te, A Virtude. A Virtude é aquela forma ideal de condução de nossa vida, nossa melhor forma de comportamento, no sentido de nos colocarmos sempre em nosso caminho rumo ao Tao, O Caminho.

Quando Lao Tse nos fala

Os bons realizadores da antigüidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los

............. ele, certamente, se refere à Eras anteriores à sua, e aos sábios e mestres de tempos longínquos no passado.... Sábios e mestres que já estruturavam os elos da cadeia ininterrupta - ao logo dos tempos - de mestria e discipulado, a Guruampara (termo sânscrito).

Possivelmente, o I Ching, o Livro das Mutações, teria começado a ser intuído e compreendido em seus primórdios cerca de 5 mil anos antes de Lao Tse.

O I Ching - I=Mutação e Ching= Tratado - é um conjunto de observações e compreensões das leis que regem a natureza e todos os seres, o céu e a terra. Essas observações e compreensões foram realizadas progressivamente, durante anos, séculos (quem sabe milênios), pelos sábios da antigüidade na China.

Neste mesmo período, no passado longínquo, também na antiga Índia, os sábios intuíram e concretizaram a linguagem Sânscrita bem como aquilo que é denominado de Tantra, ou seja, a compreensão das verdades da vida, aquilo que livra o homem de sua escuridão, de sua ignorância.

Para que esses sábios mencionados do passado longínquo, pudessem alcançar toda essa compreensão e sabedoria, certamente, teriam que estar fundamentados em seu Tao, O Caminho, e em seu Te, A Virtude.... Por isso, Lao Tse se refere a eles como

sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados

E por serem despertados, ou seja, por terem alcançado o Caminho da Iluminação (e possivelmente também o Caminho da Imortalidade ou Liberação), Lao Tse nos diz que

Eram profundos e não podiam ser compreendidos

Assim, Lao Tse, neste Capítulo, tenta ilustrar, através da menção dos sábios da antigüidade e de suas formas de atuação, seu Te, sua Virtude, alguma das qualidades importantes também para a nossa atuação nos dias de hoje (como também para os dias quando Lao Tse viveu). E para amanhã e sempre! Por isso, ele diz:

E justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los

Lao Tse passa, então, a descrever os sábios e mestres da antigüidade e algumas de suas qualidades:

Receosos como quem atravessa um rio no inverno

O rio no inverno aonde tudo é coberto pelo gelo, tem suas águas enregeladas transformadas em seu estado líquido para o estado sólido, não é mesmo? Se tivermos que atravessar um rio no inverno teremos que ser extremamente cautelosos, com os ouvidos atentos a qualquer possível rachadura neste gelo.... Ou seja, ao atravessarmos o rio da vida, teremos que ter sempre bastante cautela, manter a lucidez da consciência em relação aos nossos atos e às suas reações, bem como aos atos dos outros e da natureza em si e suas reações.

Cautelosos como quem teme seus vizinhos

De uma forma geral, vivemos nossas vidas em conjunto com outras pessoas, seja ruralmente ou seja urbanamente. Desta forma, é sempre importante que tenhamos uma mente lúcida em relação aquele que é nosso lugar e quais são esses limites próprios bem como em relação aquele que é o lugar próprio e que são os limites das outras pessoas ao nosso redor. E mais, também aprendemos com a vida que todas as pessoas são iguais porém extremamente diferentes entre si....

Reservados como o hóspede

Quando estamos em casa de outras pessoas, sejam familiares ou sejam amigos, sempre tentamos manter uma postura de reserva, de respeito, de cerimônia..... sempre conscientes de que não estamos em nossa própria casa e sim estamos dentro dos limites das outras pessoas.

Solúveis como o gelo fundente

Na vida, é sempre fundamental que mantenhamos uma postura correta, sim, porém, não inquebrantável, rígida, sem maleabilidade alguma. Pelo contrário, é preciso, como um todo, tanto fisicamente quanto mentalmente e espiritualmente, nos mantermos maleáveis, prontos a recebermos as leis da vida que trazem a mutação de tudo.... Dessa forma, poderemos nos fusionar com a plenitude das verdades da vida.

Genuínos como a madeira bruta

O Céu Anterior ou Mundo da Não-Manifestação é como a madeira bruta, natural, assim como ela é, naturalmente. Quando a madeira é já trabalhada, posteriormente, e transformada em algum instrumento ou objeto, é como o Céu Posterior, ou Mundo da Manifestação.
Dessa forma, quando Lao Tse nos diz que os sábios e mestres da antigüidade eram

Genuínos como a madeira bruta

, ele nos traduz seus Caminhos da Iluminação e seus Caminhos da Imortalidade já alcançados em suas plenitudes, ou seja, todos estes sábios e mestres já se fusionaram ao Tao do Céu Anterior ou Mundo da Não-Manifestação.

Vazios como os vales

O Vazio é encontrado através da profundidade do trabalho da Meditação.

De uma maneira geral, sempre os Capítulos do Tao Te Ching, em algum momento, através de alguma expressão ou de alguma frase, nos falam sobre a importância da Meditação e da entrada no Vazio. Também em alguns outros Capítulos, Lao Tse usou a imagem do vale para falar do Vazio.

O vale é o lugar mais fundo da terra. É o lugar aonde as águas se encontram. Na Meditação, devemos trilhar o caminho da profundidade dentro de nós mesmos, em nossa máxima possível interiorização. Ao realizar a junção do Sopro Primordial com o Espírito - água e fogo - nos deparamos com o momento da Fixação, o verdadeiro início estrutural para a Meditação. Depois de um longo processo, passamos pelas Rodas do Moinho, que são energias limpadoras e energizadores de todo o nosso corpo físico, nosso Caldeirão, e estamos, finalmente, prontos! Prontos para adentrar no êxtase, o momento divino da Meditação, nossa fusão com o Tao da Criação. Este é o momento da entrada no Vazio.

Assim, Lao Tse nos diz que os sábios e mestres da antigüidade encontraram seu Vazio e ali se mantiveram.

Entorpecidos como as águas turvas

Quando se encontra o Vazio, parece que para o resto do mundo nos encontramos num estado de 'entorpecimento'..... ou seja, estamos tão intensamente e plenamente voltados para nossa absoluta interiorização, que realmente, não parece que mais pertencemos a este mundo da manifestação.... É que, na verdade, estamos fusionados ao Mundo da Não-Manifestação.... apesar de que nosso corpo físico, nosso Caldeirão, ainda se encontra dentro do Mundo da Manifestação.

Continuando dentro da mesma imagem da frase anterior e explicando-a mais detalhadamente, Lao Tse, entra em sua terceira estrofe - aonde ele vai nos revelar o significado intrínseco de todos os versos anteriores:

O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, tornar-se gradualmente criativo

Nestas duas frases simples, Lao Tse nos revela todo os segredos da Meditação - quando ela realmente acontece, quando realmente mergulhamos no Vazio.

Dentro do nosso mundo interior plenamente fusionado com o Mundo da Não-Manifestação, na Meditação, o silêncio, a quietude, através do total 'entorpecimento' do corpo físico no Mundo da Manifestação, vai alquimizando, transformando, transmutando aquilo que aparentemente parece 'turno' em 'límpido': é o Retorno do Mundo da Manifestação ao Mundo da Não-Manifestação.

O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido

No entanto, tudo sempre sob o Tao da Criação encontra-se em contínua mutação, em contínuo movimento. Apenas a Não-Mutação é imutável, ou seja, apenas o Tao simplesmente assim é. Todo o resto sob o Tao da Criação é mutável.

Dessa forma, dentro da quietude máxima, da absoluta interiorização, dentro do Vazio pleno alcançado na Meditação - através da mutabilidade, do movimento - acontece o Retorno, ou seja, o Mundo da Não-Manifestação faz criar, faz nascer, dá berço, ao Mundo da Manifestação.

Por isso, Lao Tse nos diz:

O quieto, através do movimento, tornar-se gradualmente criativo
Também esse movimento, essa mutação, pode ser entendida através dos princípios do Receptivo e do Criativo, do Yin e do Yang, que são tão bem exemplificados no I Ching, O Livro das Mutações. Neste caso, dentro do I Ching do Caminho do Céu, ou seja, o I Ching Primordial, que parte do Sublime Yin, O Receptivo, A Terra, A Mãe, A Não-Luz, criando todos os seus filhos e consequentemente, todos os Hexagramas em 64 imagens do Tao da Criação, até encontrar com o Sublime Yang, O Criativo, O Céu, O Pai, a Luz.

O I Ching do Caminho do Céu - primordial - descreve todas as etapas do processo da Meditação, do Vazio da Não-Luz à Luz da Criação.

Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.

Lao Tse sempre nos fala que a maior das Virtudes é a Modéstia, a Humildade. Assim, o sábio, o mestre, trilha seus Caminhos da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação sempre estruturado em sua modéstia, em sua humildade.

O Caminho da Iluminação traz mente e consciência iluminadas e infinitizadas. O Caminho da Imortalidade traz, porém, não apenas mente e consciência iluminadas e infinitizadas.... mas, principalmente, VIDA iluminada e infinitizada.

Para que esta Vida iluminada e infinita possa acontecer, é preciso, dentro do Vazio da Meditação, alquimizar, realizar a mutação do corpo físico em Corpo de Luz. É a Alquimia do Caldeirão.

Desta forma, quando o sábio, o mestre, se encontra em sua velhice, depois de ter percorrido os longos caminhos da vida, seu corpo físico certamente estará correspondendo a estes anos de vida vivenciada, naturalmente.

, mesmo envelhecido,

Porém, tendo realizado em si mesmo a Alquimia do Caldeirão - a transmutação do corpo físico do Mundo da Manifestação em Corpo de Luz do Mundo da Não-Manifestação -, o sábio, o mestre, o Homem Sagrado

,pode voltar a criar

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Foto do sítio das estrelas, Janine Milward .
TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 15

Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching