Capítulo 10




TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Interpretação de Janine Milward


Capítulo 10
Quem conduz a realização do corpo por abraçar a unidade
Pode tornar-se indivisível
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade
Pode tornar-se criança
Quem purifica através do conhecimento do mistério
Pode tornar-se imaculado

Ame o povo e governe o reino através do não-conhecimento
Ilumine e clareie os quatro cantos através da não-ação
Abra e feche a porta do céu através da ação feminina

O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude



Interpretação
Janine Milward



Quem conduz a realização do corpo por abraçar a unidade
Pode tornar-se indivisível
Quem respira com pureza por alcançar a suavidade
Pode tornar-se criança
Quem purifica através do conhecimento do mistério
Pode tornar-se imaculado
Nesta primeira estrofe, Lao Tse nos fala sobre a realização do Te, A Virtude, para, através dela, nos colocarmos em nosso Caminho rumo ao nosso Tao, O Caminho. Na verdade, nestes versos em três longas frases, nos são apontados os Caminhos da Iluminação e da Liberação e como trilhá-los.

Quem conduz a realização do corpo por abraçar a unidade
Pode tornar-se indivisível

A condução da realização do corpo por abraçar a unidade" nos fala claramente da transmutação alquímica entre o corpo físico e o Corpo de Luz. A unidade da qual se fala é o Uno, O Absoluto, O Tao, O Caminho. Dessa forma, assim se conduzindo, o homem (pertencente à pluralidade do pluriverso), "pode tornar-se indivisível", ou seja, uno com o Tao, fusionado plenamente com a Mente Cósmica, O Absoluto.

Quem respira com pureza por alcançar a suavidade
Pode tornar-se criança

A respiração sobre a qual Lao Tse nos fala é a fusão do Sopro Primordial (através de nossa inspiração e expiração) com a Consciência iluminada e infinita do Tao, a fusão entre Alma e Espírito, entre a Água da Sabedoria e o Fogo da Consciência, entre o ar da Terra e o Chi do Pluriverso. É através da perfeita fusão da Consciência com o Sopro Primordial, que o Homem consegue estabelecer a sua Fixação, ou seja, o plano a partir de aonde tem início a verdadeira meditação, o longo Caminho rumo à Alquimia do Tao. Assim acontecendo, o Homem "pode tornar-se criança", ou seja, está limpo, transparente, imaculado.

Quem purifica através do conhecimento do mistério
Pode tornar-se imaculado

Alcançando a Fixação e penetrando no Caminho da verdadeira meditação rumo à sua Alquimia do Tao, o Homem está pronto para receber o Vazio. O Vazio é aonde tudo começa e tudo termina, é o lugar aonde existe o Revirão da Vida. É o lugar da Sabedoria e da plenitude e infinitude da Consciência e da Vida. É o lugar do conhecimento do mistério, sobre o qual não se fala porque não se tem palavras para falar do Vazio do Tao. Assim, o Homem "pode tornar-se imaculado", quer dizer, realmente trilhando seu Caminho da Iluminação e Caminho da Imortalidade ou Liberação.

Realmente, me parece que nesta primeira estrofe Lao Tse, a cada dois versos ou a cada sentido de frase, nos revela a Sublime Trindade ou Sublime Transparência: O Tao Primordial, O Mestre e O Tesouro do Espírito. O Tao Primordial aparece através do corpo indivisível, o Corpo de Luz. O Mestre aparece através da fusão do Sopro Primordial com a Consciência Iluminada e Infinita. E o Tesouro do Espírito aparece através do Conhecimento do Mistério.

Ame o povo e governe o reino através do não-conhecimento
Ilumine e clareie os quatro cantos através da não-ação
Abra e feche a porta do céu através da ação feminina

Na segunda estrofe, novamente Lao Tse nos fala sobre o Te, A Virtude, sobre nossa forma ideal de atuação para que possamos alcançar nosso Caminho rumo ao nosso Tao, O Caminho. Na verdade, nestes versos nos são mostradas as três Virtudes fundamentais para vivenciarmos nossa encarnação e realizarmos a Alquimia do Tao: o não-conhecimento, a não-ação e a ação feminina.

Ame o povo e governe o reino através do não-conhecimento

O povo e o reino são simbolismos que nos falam sobre nosso corpo e nossa consciência, respectivamente. O reino governa sobre o povo assim como nossa consciência governa nosso corpo. Quanto mais pudermos expandir e iluminar nossa consciência, mais facilmente conseguiremos que nosso corpo realize nossa Missão de Encarnação na Terra e nossa Missão de Iluminação neste Planeta absolutamente perfeito para estas duas empreitadas.

O não-conhecimento se revela através do conhecimento e da consciência dos processos vitais do universo aonde vivemos, aonde estamos encarnados. Esse conhecimento e essa consciência não necessariamente querem falar da intelectualidade ou uso afinado do estado mental. O não-conhecimento revela a verdadeira fusão do inconsciente com o consciente, a verdadeira Yoga, deixando que os conhecimentos do inconsciente se fundam harmoniosamente com o consciente, proporcionando a expansão da consciência e o conhecimento real da vida e da Criação. O inconsciente é aquele que tudo sabe e se revela ao consciente através do simbolismo e das imagens que trazem consigo as verdades do não-conhecimento.

Ilumine e clareie os quatro cantos através da não-ação
A não-ação em nenhum momento significa o nada fazer, o fazer nada. Não. A não-ação significa viver a vida da forma como ela vai se apresentando, naturalmente, genuinamente. E para tanto, é preciso a iluminação da mente e a clareza do pensamento e das idéias para se poder caminhar pela vida - em seus quatro cantos, ou seja, em todos os rumos que ela nos apresenta - de forma lúcida e tranqüila, agindo quando se tem que agir e não agindo quando não se tem que agir. Vivendo, sentindo, fluindo. A verdade é que tudo no Cosmos e na Criação se manifesta perante a nós e nos faz tomar nosso rumo natural se conservarmos dentro de nós nossa naturalidade aliada à nossa lucidez.

Abra e feche a porta do céu através da ação feminina
A ação feminina é a energia Yin, receptiva, dócil, suave. É a energia do Vazio que cria a Criação através do sopro de vida do Criativo, a Luz. É somente através do Vazio atingido na verdadeira meditação que se abre e fecha a porta do céu, ou seja, que podemos caminhar, naturalmente e lucidamente, entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação, passando pelo Portal do Revirão da Vida.

O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.

Finalmente, na terceira e última estrofe, Lao Tse nos fala apenas do Tao, O Caminho. A verdade é que, neste Capítulo ou Poema, Lao Tse vai vagarosamente, porém sem rodeios, tecendo o Caminho da Iluminação e o Caminho da Liberação.

Na primeira estrofe, Lao Tse nos apontou o Caminho da Iluminação e o Caminho da Liberação. Na segunda estrofe, o Mestre nos presenteou com a forma e a ação - o Te, A Virtude - com que devemos trilhar os Caminhos rumo ao Tao. Na terceira estrofe, Lao Tse tenta, dentro do possível, descrever como o Homem Sagrado - depois de ter sido apenas homem que tenha bem trilhado seus Caminhos - pode se assemelhar ao Tao, O Caminho dentro daquilo que este, O Caminho, pode apresentar.

O que gera e cria
A Luz do Tao da Criação é aquilo que gera. O Vazio, que já foi descrito dentro da ação feminina que abre e fecha a porta do céu, é aquilo que cria. Neste momento, Lao Tse também está nos falando claramente sobre o que sejam o Tao e o Te, O Caminho e A Virtude: aquilo que gera e cria. O Céu é a Luz do Tao da Criação e a Terra é o Vazio, O Te, A Virtude, o lugar aonde podemos trilhar o Caminho do Céu e da Terra.

Gera mas sem se apossar
Em vários outros momentos do Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, Lao Tse nos diz que o Céu e a Terra, primeiramente, são constante e duradouro, respectivamente. Em segundo lugar, e fundamentalmente, geram e criam.... porém nada querem para si. É a não-ação mais primordial do Tao da Criação: gerar e criar naturalmente, apenas porque assim é que o Tao - que "se orienta por sua própria natureza " (Capítulo 25).

Sendo assim, aquilo que possibilita a revelação da Criação tanto do Mundo da Manifestação quanto do Mundo da Não-Manifestação é o fato de Céu e Terra gerarem e criarem porém nada quererem para si. Não existe qualquer pertencimento. O Céu apenas é o Céu e a Terra apenas é a Terra e cumprem ambos suas missões naturalmente, genuinamente, dentro do não-conhecimento, da não-ação e da ação feminina, ou seja, do retorno ao Vazio.

E é exatamente o fato de Céu e Terra gerarem e nada quererem para si, que faz a Criação acontecer. Assim é o Tao - que se orienta por sua própria natureza, como Lao Tse nos diz em seu Capítulo 25:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Tao
O Tao se orienta por sua própria natureza
Dessa forma, Lao Tse finaliza seu Poema nos revelando o Tao da Criação, através do Te, A Virtude, ou seja, O Céu através da Terra...

Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.

A Misteriosa Virtude já havia sido comentada em seus primórdios, quando Lao Tse nos revelou logo na terceira frase da primeira estrofe ao falar sobre o Caminho da Imortalidade :

Quem purifica através do conhecimento do mistério
Pode tornar-se imaculado

Quando o homem consegue alquimizar, transmutar seu corpo físico em Corpo de Luz e alcança, não apenas a Iluminação e infinitude de sua mente e consciência mas também, e fundamentalmente, a iluminação e infinitude de sua vida.... então ele torna-se Homem Sagrado. O Homem Sagrado é aquele que, por ter se fusionado com a Mente Cósmica, com o Tao da Criação, torna-se indivisível, torna-se uno com seu Tao.

O Homem Sagrado possui em si mesmo O Céu e A Terra e por isso mesmo, pode gerar e criar, porém sem se apossar, sem nada querer para si, sem dominar... agir dentro da não-ação, conhecer dentro do não-conhecimento, entrar no Vazio....exatamente por ter atingido a Misteriosa Virtude.

A Misteriosa Virtude é um bem que apenas é conseguido através dos Caminhos da Iluminação e da Imortalidade.

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TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 10

Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching